Modelo Mental?

Mas o que é Modelo Mental?

Mas

gente,

o que é

Modelo Mental?

“É a expectativa que um usuário tem com relação ao comportamento do computador”
HELANDER, LANDAUER E PRABHU (1997)

Cérebro sabido

Desde o nosso nascimento, interagimos com váários produtos e situações que exigiram algum dia um aprendizado para lidarmos com eles da melhor forma possível. Já pensou quanto espaço seria necessário para que o nosso cérebro armazenasse TODA informação aprendida durante a nossa existência? (A mulher que não consegue esquecer pode dar uma palhinha) .

A verdade é que nosso cérebro não possui espaço suficiente para armazenar todas as informações, imagens, procedimentos que aprendemos sobre coisas, pessoas, situações. Diante dessa limitação, veja como ele é sabido: ao invés de armazenar toooooodas as informações, ele guarda apenas as partes mais signifcantes. Esses fragmentos de informação são chamados de nós, que se conectam uns aos outros formando uma grande teia de conexões. Assim, quanto mais informações temos sobre um tema, mais “nós” e conexões entre nós teremos, tornando o resgate das informações desse tema mais rápido e preciso.

“Eu tenho uma vaga lembrança…”

Sobre a maioria das coisas do nosso dia-a-dia, temos poucos nós e conexões. Ficamos assim com registros fragmentados. É daí que vem aquela “vaga lembrança” sobre o funcionamento de alguma coisa, por exemplo. Não lembramos de todos os detalhes de uma operação, mas sabemos o suficiente para iniciá-la e saber se virar conforme lembramos o funcionamento da coisa.

A maioria do conhecimento armazenado no nosso cérebro é desse jeito, fragmentado. Esse tipo de conhecimento chama-se “Conhecimento Procedural”. Assim, deixamos a maioria das informações armazenadas no ambiente em que ela é utilizada, e quando precisamos dela, o ambiente nos diz. Por exemplo:

excel

Onde fica a opção Inserir Coluna na Planilha?

 

— O que fazer se você não conseguir lembrar exatamente onde fica a opção pra inserir uma nova coluna na planilha do Excel 2007/2010 ? Provavelmente você já usou em algum momento da sua vida, mas não lembra de todos os passos para alcançá-la, e nem precisa. Você “lembrará” quando entrar em contato com o ambiente (no caso, o menu do Excel), pois você lembrará de alguns elementos da interface que funcionarão como “pistas” que o ajudarão a realizar o procedimento.

 
excel2

Localização da opção dentro do menu. Fácil ou difícil?

As experiências (boas e ruins) com vários objetos e produtos interativos ao longo da nossa vida constroem continuamente uma imagem em nossa mente sobre como achamos que devemos utilizar as coisas ao nosso redor e, em um nível menor, como as coisas realmente funcionam. Esses dois tipos de conhecimento – modo de usar e maneira de funcionamento – juntos são chamados de Modelo Mental do usuário.

Eis o Modelo Mental

Esse não é um conceito novo, e nem exclusivo da IHC. A primeira vez que utilizaram o termo “modelo mental” foi em 1943, pelo J.W. Craik. Ele morreu em um acidente de bicicleta e sua teoria ficou no limbo até que voltou a ser estudada em 1980 por outros pesquisadores.

 Susan Carey, em 1986, descreveu modelos mentais na seguinte forma:

— Um modelo mental representa o processo de pensamento de alguém para saber como algo funciona (ou seja, a compreensão da pessoa sobre o mundo que a envolve). Os modelos mentais são baseados em informações incompletas, experiências passadas e até mesmo percepções intuitivas. Eles ajudam a moldar ações e comportamentos, influenciando naquilo que as pessoas devem prestar atenção em situações complicadas e como elas abordam e resolvem os problemas.

E o que isso tem a ver com design de interação?

Imagine o cenário:

ipadbox

— Você nunca viu um iPad na sua vida. Eu dou a você um de presente e lhe digo que você pode ler seus livros favoritos nele. Antes de você ligar o iPad e utilizá-lo pela primeira vez, você já possui um modelo mental na sua mente sobre como a leitura de um livro no iPad poderia ser, baseado na sua experiência de leitura no livro físico ou nos computadores. Você possui suposições sobre como será a aparência do livro na tela, que coisas você poderá fazer e como utilizar o livro – o que deve fazer para trocar a página ou usar um marcador. Você possui um modelo mental sobre leitura de livros no iPad ainda que você nunca tenha feito isso nele.

Uma pessoa que já utilizou um Kindle ou um leitor de livro digital vai ter um modelo mental de leitura no iPad muito diferente de alguém que nunca utilizou nenhum desses dispositivos. Assim que você passa a utilizar o iPad para ler livros, seu modelo mental irá se modificar com os novos conhecimentos adquridos através dessa nova experiência.

livro

e-book

Modo de virar uma página em um livro físico e em um aplicativo do iPad

No Design de Interação, modelos mentais referem-se a representações de alguma coisa – um aparelho, um software – que o usuário possui na mente. Eles são criados e modificados a cada experiência que os usuários possuem ou observações de situações vivenciadas por outros. E como as pessoas se referem aos modelos mentais para prever como um aparelho ou software funciona ou como utilizá-los, é comum perceber a utilização de modelos mentais errôneos sobre as coisas. Por exemplo:

— Por que as pessoas batiam nas televisões de tubo quando elas não queriam funcionar?

— Por que as pessoas apertam o controle remoto com mais força quando a pilha está fraca?

— Por que quando as pessoas estão com pressa elas apertam o botão do elevador mais vezes – e até mais rápido ou com mais força?

—  Por que as pessoas quando pegam chuva costumam correr para se molhar menos?

— Por que quando algum programa demora para abrir, a pessoa tende a clicar no ícone várias vezes, sobrecarregando o computador pois agora deve abrir várias instâncias do mesmo programa?

 Esses exemplos mostram a utilização de modelos mentais errôneos baseados em uma teoria geral das válvulas – o princípio de que Mais é Mais: quando mais se pressiona, clica, gira, mais causa o efeito desejado. Esse princípio se aplica muito bem em várias situações no mundo físico: abrir uma torneira, aumentar o volume do rádio, martelar um prego. No entanto, em outras situações, como manipular um termostato, ele não produz o resultado da forma esperada.

Prazer, sou o Modelo Conceitual

Situações em que as pessoas utilizam modelos mentais incompletos, confusos, pobres são comuns quando lidamos com produtos interativos, e entender esses modelos é importantíssimo no desenvolvimento de um produto com boa experiência do usuário. Para compreender melhor essa importância, olhemos do ponto de vista do produto:

Todo produto interativo possibilita trabalhar em um fluxo influenciado pelas interações que ele permite fazer, as tarefas que são possíveis de se realizar e a maneira como todas essas informações são transmitidas a quem usa através de sua interface. Todas essas informações embutidas a interface que são oferecidas ao usuário descrevem o modelo conceitual do produto. Modelo Conceitual?

 “Uma descrição do sistema proposto – em termos de um conjunto de ideias e conceitos integrados a respeito do que ele deve fazer, de como deve se comportar e com o que deve se parecer – que seja compreendida pelos usuários da maneira pretendida” ( Preece, Rogers, Sharp – designers )

Voltando o exemplo do iPad: Antes de usá-lo pela primeira vez, você possui um modelo mental sobre como deve ser a leitura de um livro no iPad, como  isso funcionaria, o que seria possível fazer e de que forma. Mas quando você liga o iPad e abre o seu primeiro livro virtual, o iPad vai mostrar o modelo conceitual dele sobre uma leitura de um livro virtual. Você verá telas, botões, coisas acontecendo. A interface do iPad está representando o modelo conceitual criado pelos designers para leitura de livros virtuais. É a partir daqui que a história fica interessante.

O segredo do Chef

Tudo que está relacionado a uma boa (ou péssima) experiência do usuário diz respeito à correspondência entre o modelo mental do usuário com o modelo conceitual do produto.

  • Se o modelo conceitual do produto não corresponde ao modelo mental do usuário, a pessoa vai achar o produto difícil de usar.

  • Se os designers do modelo conceitual do produto não levarem em consideração o modelo mental do usuário, então as chances do produto ser difícil de usar são altas.

  • Se há vários grupos diferentes (po exemplo, pessoas que já usaram um Kindle e pessoas que nunca usaram um leitor digital), se o modelo conceitual corresponder a apenas um desses modelos mentais (por exemplo, quem já teve experiência com leitores digitais), os outros usuários poderão achar o produto difícil de aprender e usar.

  • Se o modelo conceitual não foi intencionalmente projetado e for apenas um reflexo do hardware, software ou banco de dados subjacente, então há poucas chances desse modelo corresponder ao modelo mental dos usuários, tornando o produto difícil de usar.

Algumas vezes é sabido que o modelo mental dos usuários não vão corresponder ao modelo conceitual do produto desenvolvido, então deseja-se mudar o modelo mental deles para que, assim, os dois modelos sejam correspondentes. Por exemplo: pessoas que leram apenas livros reais em papel não terão um modelo mental preciso sobre como realizar leituras em um dispositivo digital touchscreen, como o iPad. Assim, você poderia criar um pequeno vídeo-tutorial para adaptar o modelo mental dos usuários antes mesmo que eles recebam o iPad após a compra. Na verdade, o verdadeiro propósito do tutorial é adequar o modelo mental do usuário para que esse corresponda ao modelo conceitual do produto.

tutorialthesims3

Muitos jogos, como The Sims 3, oferecem ao usuário um tutorial guiado em sua primeira execução. No The Sims 3, o tutorial guia o usuário na realização de algumas atividades a fim de familiarizá-lo com os aspectos mais importantes da jogabilidade. Percebe-se aí uma das estratégias para adequar o modelo mental do jogador ao modelo conceitual do jogo.

Existem várias técnicas para compreender o modelo mental dos usuários, como entrevistas, análise de tarefas, estudo de campo, observações participativas… Para desenvolver um modelo conceitual correspondente, como design de interação, iteratividade, validação… E analisar a correspondência entre os dois modelos, como testes de usabilidade, prototipação com usuários.

 Conclusão

Percebemos a importância dos modelos mentais para o desenvolvimento de produtos com boa experiência de uso, e também a relação entre esses e os modelos conceituais.

Esse texto abordou de maneira bem geral os Modelos Mentais, lembrando que esse assunto é extenso, porém importantíssimo para quem quer aprender a desenvolver produtos fáceis, intuitivos e com ótima experiência de uso. Segue abaixo os links dos materiais que serviram de fonte para essa postagem. Super recomendamos a leitura de cada um deles: são fáceis de entender e possuem diversos exemplos práticos – sem contar que os autores se garantem!

Fontes

UX – Modelos Mentais, Design Intuitivo?
Eduardo Horvarth

Modelos Mentais e como as pessoas usam incorretamente
Rafael Marin

Para entender Modelos Mentais
Anna Raquel

Modelo Mental: conheça algumas definições
Renata Zilse

Tempo para refletir: Modelos Mentais
Daniel Santos

The Secret to Designing an Intuitive UX : Match the Mental Model to the Conceptual Model
Susan Weinschenk

Compreendendo e Conceitualizando a Interação
Capítulo 2 do livro ‘Design de Interação’.
Jenny Preece , Yvonne Rogers , Helen Sharp

Ela lembra tudo e sofre com isso, mostra “A Mulher que Não Consegue Esquecer”
Livraria Folha

3 pensamentos sobre “Modelo Mental?

  1. Acredito que a ideia de pensar no usuário é um dos pontos mais importantes, se não o mais importante, aqui. Uma vez que o produto deve atender as necessidades das pessoas que o utilizarão, não faz sentindo construir um modelo conceitual que não corresponda ao modelo mental dos usuários. De nada adianta ter ideias inovadoras e maravilhosas, como nunca antes vistas… Se isso acontecer nesse momento do projeto, você vai acabar tendo algo inovadora e maravilhosamente bem feito apenas na sua cabeça, que só funciona pra você e que realmente, por nunca ter sido antes visto, provavelmente não sirva de nada para as pessoas a quem realmente o produto está destinado. Acho que esse é o momento do projeto em que deve-se parar para realizar certas pesquisas e análises do público afim de se construir um modelo conceitual mais adequado. Nesse sentido, acredito que áreas de estudo como a Psicologia e, mais especificamente a Cognição, possam estar auxiliando bastante durante o processo.

    • Sim, a cognição e Psicologia são grandes aliadas nessa construção, mas lembre-se que IHC é multidisciplinar dependendo da aplicação se faz necessário a inclusão de outras areas do conhecimento =) para o construção do modelo mental do usuário. =) é sempre instigante e desafiador, pelo menos eu acho =P

  2. Pingback: Jogos sérios: desenvolver habilidades cognitivas pode ser divertido! – Horizontes

E aí, o que você pensa?